A história de Ló, muitas vezes lembrada por sua permanência em Sodoma e os eventos dramáticos que o cercaram, é, na verdade, um retrato poderoso de um homem que enfrentou grandes adversidades, exerceu resiliência em meio ao caos e, por fim, recebeu uma honra singular da parte de Deus. Ele não foi apenas um personagem coadjuvante na história de Abraão, mas alguém cuja vida nos ensina que a fidelidade, mesmo em contextos imperfeitos, é vista e valorizada por Deus.
Ló era sobrinho de Abraão e o acompanhou quando este foi chamado por Deus a sair de Ur dos Caldeus. Prosperaram juntos a ponto de precisarem se separar, pois a terra já não comportava seus rebanhos e servos. Em um gesto nobre, Abraão permitiu que Ló escolhesse primeiro onde queria habitar, e este escolheu a fértil planície de Sodoma. Essa escolha, embora natural sob a perspectiva humana, o colocou próximo a uma sociedade corrompida. No entanto, mesmo ali, Ló não se contaminou com as práticas da cidade. A Bíblia é clara em afirmar que sua alma se angustiava diariamente com a iniquidade ao seu redor (2 Pedro 2:7-8).
Essa afirmação é crucial. Muitos enxergam apenas os episódios negativos em torno de Ló, como sua hesitação ao sair de Sodoma, ou o episódio das filhas. Mas o Novo Testamento resgata e esclarece seu caráter: Ló era justo. Mesmo em um ambiente hostil, ele manteve viva a chama da fé, o que não é pouco. Permanecer íntegro em meio à depravação é um feito digno de nota — e Deus viu isso.
As adversidades de Ló não foram pequenas. Ele viveu sob constante tensão moral, foi rejeitado pelos moradores de Sodoma, perdeu sua esposa no juízo divino e precisou recomeçar sua vida com o trauma de ter deixado tudo para trás. Ainda assim, sobreviveu e seguiu em frente, mesmo sem estrutura ou apoio humano. Essa é a marca da resiliência: não é ausência de dor, mas a persistência em continuar apesar dela.
A história que se segue, com o nascimento dos filhos de suas filhas — Moabe e Ben-Ami —, pode parecer escandalosa aos olhos humanos, mas aos olhos de Deus nada está fora do alcance da redenção. É justamente da linhagem de Moabe que surge Rute, uma mulher moabita cuja fé, lealdade e caráter a tornaram parte da genealogia de Jesus Cristo. Que mistério glorioso: o justo Ló se torna ancestral, ainda que distante, do próprio Salvador da humanidade. Isso não é acidental. É honra.
Enquanto muitos enxergam apenas queda e vergonha, Deus revela propósito e graça. A história de Ló nos ensina que nem sempre compreendemos imediatamente o lugar que nossas decisões, dores e trajetórias ocupam no plano divino. Deus honra os que andam com Ele, mesmo quando os caminhos se tornam estreitos e os cenários parecem desfavoráveis. Ló não foi perfeito, mas foi íntegro. E sua integridade, sustentada pela graça, frutificou muito além do seu tempo.
Em tempos de adversidade, olhemos para Ló não como um exemplo de escândalo, mas como alguém que se manteve justo no meio da perversão, que suportou perdas imensuráveis, e cuja história Deus transformou em caminho para a honra eterna. Se Deus pode usar a história de Ló para tecer a linhagem do Messias, Ele certamente pode usar nossas lutas e cicatrizes para cumprir propósitos muito maiores do que imaginamos.
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